Até quando vamos continuar sobrevivendo como se fôssemos coitados, à mercê da vontade política local? Até onde vai nossa ingenuidade em aceitar as condições nas quais estamos vivendo? Ruas esburacadas, mal iluminadas, sem saneamento, sujas, falta de cuidado com os rios, de praças decentes, de pontos de lazer, etc., etc., etc. E põe etc. nisso. Chega até a parecer que não pagamos impostos e que não merecemos tais benefícios, pelo motivo de termos votado em candidato “x” e “y” nas eleições passadas ou, simplesmente, ir de encontro às excentricidades do prefeito.
Sou jovem. Ainda tenho 16 anos. Certo dia, conversando com pessoas mais velhas, fiquei boquiaberto, pois descobri que vivo na “cidade do retrocesso”. Isso mesmo! Entendi errado ou Picos já foi uma cidade modelo?! O rio Guaribas já foi fonte de subsistência e limpo um dia?! Picos já teve cinema também?! Interessante. Hoje em dia, se quisermos assistir a um filme, temos que ir à praça e comprar um DVD Pirata.
Ah! Quase me esqueço. Posso ver Picos inserida também no contexto de minhas aulas de história, como uma autêntica cidade da República Velha. Bem, pelo menos é o que parece. No tempo das eleições vemos, claramente, traços do clientelismo*, aonde um coronel** vai a certas comunidades e oferece dinheiro, uma caixa d’-água, materiais de construção, em troca do voto do povo que, por não usufruir de um sistema educacional decente nem condições de trabalho dignas, acaba cedendo. E isso perdura durante os demais anos. Um pequeno grupo defende o coronel** e seus aliados e acaba recebendo vantagens por isso.
Paralelamente, aspectos ditatoriais também assustam. Na ditadura, a liberdade de expressão era reprimida; a voz do ditador era imperiosa. Hoje em dia, há coisas semelhantes na cidade. Servidores municipais organizam uma manifestação para reivindicar melhorias nas condições de trabalho. Entretanto, apenas os concursados puderam participar, e os concursados já com alguns anos de trabalho. Caso alguém que ainda pudesse perder o emprego estivesse nessa manifestação, estava lá, fortemente, a assessoria ditatorial da prefeitura para fotografá-los.
Com tanta desgraça sinto até vontade de ler um livro bem melancólico, como aquelas tragédias e dramas tão bem retratados na literatura nacional. Acho que vou fazer isso. Ah não! Perdão! Havia esquecido de que não temos uma biblioteca na cidade. Fazer o quê, não é? Melhor continuar escrevendo, então...
Até porque me lembrei de algo a mais. Trata-se da questão da segurança. Em Picos, ultimamente, o negócio anda tão perigoso que eu já tenho medo até de sair de casa. A cada dia diferente chega uma pessoa diferente chorando no colégio por haver sido assaltada, além dos diversos assassinatos que vemos por aí, constantemente. No mais, temos que lembrar que um ponto é positivo na segurança de Picos. Temos blitz espalhadas por todos os cantos da cidade. Mas, como tudo não pode ser perfeito, os guardas só multam, efetivamente, por alguns casos, como documentação do transporte atrasada e, principalmente, a falta de capacete em motociclistas. Dirigir alcoolizado, na contramão, em alta velocidade, tudo isso pode!
Agora é a hora, Picos! Devemos aproveitar que grande parte da população já está mobilizada e “partirmos para o ataque”! Vamos sair às ruas e cobrar. #MudaPicos.
Júlio César de Moura Luz
