Um flagrante desesperador das filas nos serviços de saúde
oferecidos pelo poder público municipal de Picos. Pessoas que precisam de exames médicos ficam
por mais de 12 horas esperando na frente da secretaria municipal de saúde para
fazer a marcação pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O descaso é tamanho que a
fila chega a dobrar o quarteirão entre as Ruas Marcos Parente com Coronel
Antonio Rodrigues.
São pessoas simples das mais diversas comunidades da zona
rural e da periferia de Picos que sem recursos financeiros buscam ajuda na hora
da doença na secretaria de saúde. A dona de casa Francisca Maria está com três
filhos menores de idade doentes. Ela procurou a secretaria de saúde para fazer
a marcação dos exames solicitados pelo médico, para isso, ela chegou ao local de
marcação às 15h do dia anterior, domingo, (02/10) e até a hora que nossa reportagem
esteve no local às 6h da manhã da segunda-feira (03/10) ainda não havia sido
atendida.
Segundo Francisca Maria, o problema se agrava ainda mais
devido alguns funcionários da própria Secretaria de Saúde alimentar um esquema
de privilégios e corrupção garantindo fichas de exames para amigos e pessoas
que se submetem a oferecer “agrados” em troca de furar a fila para garantir o
exame.
Centenas de idosos, gestantes e crianças dormem ao relento
para garantir um beneficio que todos os brasileiros têm direito, a saúde
gratuita de qualidade. As filas na marcação de exames em Picos não são de hoje.
Mensalmente na primeira semana do mês a mesma peregrinação acontece, famílias
carentes de todo o município esperam ser atendidas e a maioria delas volta para
a casa sem conseguir marcar o exame devida a grande demanda e a baixa
quantidade de vagas oferecidas.
Audiências públicas e auditórias já foram realizadas no
sentido de encontrar uma solução para o descaso na saúde pública de Picos. O
problema é tão grave que chamou a atenção da imprensa nacional. O Jornal “O
Globo” divulgou matéria no dia 27 de março de 2011 onde retrata “o descontrole
generalizado do dinheiro da saúde, sem punição”.
Segundo O Globo, a cidade de Picos já passou por três
auditorias no último ano, mas nenhuma providência foi adotada. Segundo os
auditores, são tantas suspeitas de fraude que é impossível assegurar a real
destinação de cerca de 40% dos R$29.229.484,56 transferidos pela União à
prefeitura, em 2010.
A matéria do Jornal O Globo mostra que na cidade, o SUS
pagou, em 2009, 11.902 exames auditivos, bem mais do que os 8.641 de Teresina,
com seus mais de 800 mil habitantes e referência exclusiva de atendimento
médico no Piauí e em parte do Maranhão. No mesmo ano, a prefeitura contratou
R$10,6 milhões em consultas, internações e exames especializados sem contratos,
nem licitações. Entre janeiro de 2009 e junho de 2010, pagou R$228,8 mil em
12.933 diárias a duas pensões de Teresina, supostamente para abrigar pessoas
carentes, cujos nomes até hoje não são conhecidos.
De acordo com a reportagem, o caso emblemático é o de uma
clínica de reabilitação suspeita de fraudar documentos e cobrar procedimentos
que não fez, com prejuízo ao SUS de pelo menos R$536 mil. O Ministério da Saúde
conhece o caso desde 2010, mas O GLOBO verificou que a Clínica Santa Ana
continua sobrevivendo exclusivamente às custas do SUS e continua prestando
serviços sem contrato com a prefeitura, como prestadora de serviço de alta
complexidade. Ano passado, Picos teve desabastecimento de mais de 50% nos itens
da Farmácia Básica. A prefeitura não presta contas ao Conselho Municipal de
Saúde, como manda a lei. A presidente do conselho é a tesoureira da Secretaria
de Saúde, Geovana Luz.
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